O Poverello colabora com a Associação In Família, com artigos para publicação no Jornal Diário do Minho.

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Experiência entre os doentes

Se revisitarmos a etimologia da palavra Natal, ela remete-nos para “dia de nascimento”. Dia de nascimento de Jesus Cristo.

O Natal, é a datas mais importantes do ano, não é apenas uma data. É um tempo…de renovação, paz, harmonia e, principalmente, amor nos lares…Natal é a luz dentro de nós!!

Seja com amigos ou familiares, comemorar esta data é um momento especial.

Nestes tempos de pandemia, foi essencial, reinventarmos, reencontrando outras formas de afeto e dando mais tempo à ciência para voltarmos a estar juntos.

“E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.”   Gênesis 1, 3-4

Procuramos ser luz na vida dos nossos doentes, a cor no meio da escuridão que muitas vezes se vive.

Marta Gomes, enfermeira na Unidade de Cuidados Paliativos d´O Poverello, partilhou a ceia de Natal com os doentes.

 Deixa-nos o seu testemunho carregado de cor e emoção:

“O Natal na Unidade Cuidados Paliativos é sobretudo Amor! Porque cuidar é também uma forma de Amor, amor ao próximo, onde a empatia e o altruísmo imperam! Esse amor que nos faz abdicar dos “nossos” para estar com os outros “nossos”. Porque, na verdade nós temos dois “nossos”, duas famílias que não podemos deixar sós, a nossa e os nossos doentes!

Não é um fácil para a equipa! Sobretudo porque entristece-nos ver aqueles que não podem ir a casa, passar aquele que será, muito possivelmente, o seu último Natal, com a sua família. Mas sentimos, ao mesmo tempo, muita gratidão, por poder estar presentes no seu último Natal e poder proporcionar-lhes tudo o que está ao nosso alcance!

Trabalhar com a finitude (o fim de vida) é a forma mais sincera de aprender a viver! E este é o maior presente de Natal que os nossos doentes nos oferecem!”

A enfermeira Margarida Fernandes, Coordenadora do serviço de enfermagem da Unidade de Cuidados Paliativos, deixa também um testemunho de Amor e Luz no cuidar perante a fragilidade de todos os que acolhemos:

A paixão por Cuidados Paliativos começou há 10 anos, curiosamente, num serviço de urgência. Na altura era ainda estudante de enfermagem e cumpria mais um estágio clínico. No decorrer de um turno, perante a azafama de um Serviço de Urgência, despertou-me a atenção uma doente idosa a ser colocada ao fundo de uma sala, sozinha, com a cortina fechada. Questionei o porquê, ao que me responderam que “já não há mais nada a fazer, é esperar.”

Tal resposta deixou-me inquieta e fez com que me deslocasse lá várias vezes, “espreitar” para ver se estava tudo bem. Acabou por morrer. Sozinha, no meio de uma multidão!

Esta vivência fez-me acreditar que há muito a fazer! O cuidar não termina com o fim do tratamento dirigido a uma doença. O cuidar tem que ser até ao último suspiro!

E é esta forma de cuidar que me cativa. É esta forma de cuidar que me faz, todos os dias procurar dar mais, ser melhor!

Ser enfermeira em cuidados paliativos é ter o privilégio de proporcionar o alívio da dor, de promover conforto, bem-estar e qualidade de vida.

Ser enfermeira em cuidados paliativos é ter o privilégio de cuidar perante a fragilidade. É ter um papel ativo numa equipa multidisciplinar que vê a pessoa e não a doença. Que vê a família, toda a história de uma vida.

Ser enfermeira em cuidados paliativos é permitir proporcionar os últimos desejos de vida, é permitir reencontros e despedidas, pedidos de desculpas e agradecimentos!

E são tantas as pessoas que tive o privilégio de cuidar. Tantas as famílias que confiaram em mim e na equipa, que acalentamos perante a perda!

Trabalhar em Cuidados Paliativos é Amor. Amor pela Vida. É acreditar, todos os dias que “ainda há muito a fazer, quando já não há nada a fazer.”

São todos estes aspetos que todos os dias me fazem ter Orgulho em ser Enfermeira, em integrar uma Equipa que ajuda a viver intensamente este momento tão delicado que é a morte.”

Desejamos para o ano 2021 “Que o Menino Deus nasça a cada dia e faça morada em teu coração!”