Inicio partilhando um trecho do Evangelho de São Marcos “E reuniram-se ali tantas pessoas, que já não havia lugar, nem mesmo diante da porta. E Jesus anunciava-lhes a Palavra. Trouxeram-lhe, então, um paralítico, carregado por quatro homens. Mas não conseguindo chegar até Jesus, por causa da multidão, abriram então o teto, bem em cima do lugar onde Ele se encontrava. Por essa abertura desceram a cama em que o paralítico estava deitado.” Evangelho (Mc 2,2-4)

Todos os dias n´O Poverello, sentimos está fé em Deus. Consideramos que além da necessidade de possuir a formação especializada para dar a resposta mais adequada a todas as necessidades do doente ao longo do processo da doença, é a Fé, o Amor que nos move é que nos faz procurar e desdobrar na procura do bem-estar físico, emocional e mental dos nossos doentes.

Vera Petiz, psicóloga e coordenadora deste serviço n´O Poverello, partilha a sua vivência, mostrando:

“Viver em constante aprendizagem e crescimento pessoal e humano, num ambiente fraterno e acolhedor, assim é trabalhar na Unidade de Cuidados Paliativos “O Poverello”. Diariamente, ouço na primeira pessoa, histórias de vida que me fazem ver e pensar a vida de uma outra forma. Viver intensamente cada momento que a vida nos proporciona, fazendo do futuro o nosso presente. Em Cuidados Paliativos, cada momento é vivido intensamente.

Cada pessoa que chega até nós, faz-se acompanhar de um diagnóstico de doença terminal, com o prognóstico de um fim de vida que se aproxima a passos largos. Não raras vezes, é perante um diagnóstico de doença terminal, que a pessoa repensa e redireciona os seus objetivos de vida. É precisamente quando “não há nada a fazer”, que há muito a fazer. Quando não há nada a tratar, há muito a cuidar. Há assuntos por abordar, tarefas por resolver, sentimentos por expressar. Em Cuidados Paliativos, e em particular n’ O Poverello, é dada essa possibilidade à pessoa doente (e família). Cuidamos da pessoa doente, e família, alivando a sua dor e sofrimento, estabelecendo, para tal, uma relação de ajuda, onde predominam o afeto e a compaixão. Cuidamos da pessoa doente como Pessoa, muito para além do diagnóstico e prognóstico que a acompanham. Os cuidados na Unidade de Cuidados Paliativos d’O Poverello são totais, direcionados para a pessoa doente e a sua família, adotando uma perspetiva holística de forma a atender a todas as suas dimensões: espiritual, física, psicológica, social, promovendo a sua qualidade de vida. Em Cuidados Paliativos a morte é encarada como parte integrante da vida. Estes cuidados não adiam nem antecipam intencionalmente a morte. Tudo segue o seu curso natural e a vida é vivida (intensamente) até ao momento da morte.

Recordo-me de um senhor que, em fase terminal, tinha como objetivo de vida voltar a casar com a sua ex-mulher. Há longos anos haviam optado pelo divórcio e as suas vidas seguiram cursos distintos. O diagnóstico de uma doença terminal e, o surgir dos primeiros sintomas e sofrimento associado, levaram a uma aproximação do ex-casal. A ex-mulher assumiu-se como figura de suporte ao longo do seu processo de doença e, o amor, outrora desvanecido, veio a despontar. Casaram-se n’ O Poverello, na Unidade de Cuidados Paliativos. Um momento feliz para o casal, para os filhos, e para a toda a Equipa! No final, referia o senhor “Sinto-me feliz… O meu sonho tornou-se realidade” … foi este o sentimento que vivenciou nos últimos dias da sua vida. Veio a falecer pouco tempo depois. Feliz. Em Paz.

Procuramos, em cada pessoa que chega até nós, auscultar os seus objetivos de vida (cumpridos e por cumprir), para que possamos ajudar a pessoa a cumprir os objetivos em falta. Aqui, respira-se VIDA. Não é uma ala da morte, é uma ala da Vida. Uma ala onde é dado tempo à pessoa doente para viver cada momento da sua vida. É-lhe dado o SEU tempo, com a qualidade de uma vida digna até ao último suspiro.”